A Coleta de Dados é algo fundamental em uma Análise Ergonômica, já que ela reúne as informações necessárias para computar nas análises e chegar ao diagnóstico ergonômico final. Qual o risco ergonômico, qual a severidade desse risco? Essas perguntas só podem ser respondidas pois você iniciou sua Análise Ergonômica realizando uma coleta de dados eficaz.
A entrevista com o colaborador é a primeira etapa da coleta, o início de tudo. Na própria entrevista o ergonomista já consegue coletar dados importantes. As medições também fazem parte da coleta de dados: medir mesa, cadeira, a distância que o colaborador pega uma carga, que levanta essa carga, a altura, o layout, se existe espaço suficiente para a carga ser manuseada e para o trabalhador transitar.
Existem também as medições ambientais, que envolvem ruídos, iluminação, velocidade do ar, temperatura e umidade do ar. Fotos e vídeos também são muito importantes para uma coleta de dados, pois retratam exatamente a atividade, os locais de trabalho, os movimentos e cargas envolvidas na rotina do trabalhador e a realidade que está sendo analisada.
Esses são itens essenciais que precisam estar em toda análise, mas é claro que o profissional pode inserir outros dados, se fizer sentido no caso que está analisando. É importante nunca esquecer que sem uma coleta bem feita e completa, a Análise Ergonômica simplesmente não acontece, devido a falta de dados e informações.
Por que é importante fazer uma coleta inteligente?
1 – Evitar retrabalho
Quando você realiza uma coleta de dados precária, é muito provável que tenha que voltar à empresa para colher alguma informação que ficou de fora. E sempre que falta um dado, você empaca em sua análise, justamente por que não tem informação suficiente. Ao realizar uma coleta assertiva, você consegue tudo o que precisa para uma boa análise e assim poupa tempo e dinheiro, evitando o retrabalho de fazer uma nova coleta.
2 – Evitar coletar menos do que precisa
Em algumas situações, mesmo ao fazer uma coleta de dados insuficiente, o profissional não retorna à empresa para coletar novamente. Nesses casos, a Análise Ergonômica pode ficar incompleta, insatisfatória e superficial.
3 – Evitar coletar mais do precisa
O excesso também não é positivo. É importante que o ergonomista saiba que não é tudo que precisa coletar, assim ele evita perda de tempo. Com a coleta de dados inteligente, o profissional evita coletar dados extras, que não vão interferir na elaboração da Análise Ergonômica.
4 – Focar nas exigências mais importantes
Às vezes o profissional está tão ansioso, que acaba esquecendo o que é mais importante. É preciso ter um olhar direcionado para o que é mais crítico, como as situações que recebem mais queixas e apresentam claramente mais problemas e pontos delicados. São elas que merecem mais atenção num primeiro momento da coleta.
5 – Fazer uma análise e diagnóstico correto
Ter os dados completos e necessários é fundamental para uma boa Análise Ergonômica e consequentemente, para o diagnóstico ergonômico correto. É preciso realizar uma coleta de dados completa e suficiente ou então o que fará diferença na análise e na posterior gestão não estará no documento.
Conheça os erros mais comuns ao coletar dados para a AET
1 – Ignorar a entrevista
Muitos profissionais não dão tanta importância para esse momento de conversa com os trabalhadores, porém esta é a primeira e mais importante etapa da coleta. O ergonomista precisa valorizar e se preparar bem para cada entrevista que realiza com os colaboradores, pois eles são uma valiosa fonte de dados.
2 – Contar com a sorte
É um grande erro chegar ao posto de trabalho no momento da coleta com informações rasas e insuficientes sobre os trabalhadores e suas atividades. O ergonomista deve chegar ao posto de trabalho já bem informado, ciente de tudo que deverá acompanhar e do dia a dia daqueles trabalhadores.
3 – Não ter formulário de coleta
Muitas vezes é difícil contar com a memória para lembrar todas as informações que você precisa levantar para incluir em uma metodologia. Por isso os formulários de coleta são tão importantes. Eles funcionam como uma espécie de roteiro, para que você não esqueça nenhum dado que precisa coletar, sem deixar nenhuma informação pendente. Um exemplo da alta exigência para memorizar tudo que precisamos coletar é para aplicar a ferramenta ergonômica NIOSH: Altura da pega, qualidade da pega, peso, distância vertical, distância horizontal, rotação, frequência de levantamento, duração da jornada de trabalho… por isso a importância de ter roteiros, para não esquecer de nada. Metodologias como NIOSH, KIM, LIFFT, OCRA, NH11 e ISO’s de ergonomia exigem um grande input de dados para a elaboração da análise e chegar no resultado final, por isso precisam de um formulário. Liste tudo que é preciso para alimentar a metodologia e escreva em uma lista, de forma simples. Isso já funciona como um formulário de coleta fácil e objetivo.
4 – Pensar que precisa coletar tudo
Na entrevista é importante registrar tudo o que acontece no dia a dia do trabalhador. Todas as atividades, pausas, seguindo todo o roteiro de entrevista. Porém, no momento da coleta, não é necessário coletar tudo o que foi registrado na entrevista. É preciso ter foco nas exigências ergonômicas que são indicadas durante a entrevista com o trabalhador, sem esquecer de descrever o que não existe, o que não é uma exigência ergonômica / fator de risco ergonômico.
Vamos avaliar. É preciso coleta para realizar uma análise biomecânica de ombro em uma função que não tem nenhum movimento de ombro? Não. Nesse caso, um simples registro fotográfico que já será feito para outras análises é suficiente, não sendo necessário fazer uma coleta para análise específica.
As situações que são a parte, que não tem exigência nenhuma, já serão registradas normalmente ao tirar as fotos e depois evidenciadas pelo ergonomista que deverá escrever que a atividade foi avaliada e não existe queixa, que determinada exigência não se aplica naquela função. Não devemos colocar só o que é negativo. O que é positivo ou se algo não acontece em determinada atividade, deve também ser apontado. Isso é importante para o futuro.
O que é preciso para fazer uma coleta de dados inteligente
1 – Entrevista
Vá preparado para a entrevista com o colaborador. Elabore um roteiro bem completo de perguntas para que não esqueça nada importante. É neste momento que o colaborador vai te guiar para as exigências ergonômicas/ fatores de riscos que existem. A partir dessas exigências você irá chegar ao posto de trabalho sabendo exatamente o que precisa ser coletado, já linkando com os formulários de coleta e as metodologias que irão te auxiliar nessa coleta.
2 – Descobrir as atividades que envolvem as exigências ergonômicas
Se, durante a entrevista, o colaborador relata que empurra um carrinho com ferramentas pesadas de forma frequente ao longo do dia, é preciso entender em qual atividade ele faz aquele deslocamento, quantas vezes ao dia, em que horários. Neste caso, puxar e empurrar o carrinho é uma exigência ergonômica que deve ser avaliada, já que faz parte do dia a dia do trabalhador. Entendendo a rotina do colaborador, você consegue se preparar para realizar a análise in loco, no dia e horário correto. Essa é a essência da coleta de dados inteligente. Com a ajuda do colaborador, durante a entrevista você vai extrair todas as informações que precisa para se preparar para o momento da coleta e ir coletar no momento adequado quando as exigências ergonômicas de fato estão acontecendo.
3 – Linkar com as metodologias que serão utilizadas
Após identificar a exigência ergonômica e em que atividade ela ocorre, é preciso mapear o que será utilizado para a análise. Será uma ferramenta? Um questionário? Uma norma regulamentadora? Uma ISO de ergonomia? Ainda usando o exemplo do colaborador que empurra um carrinho com ferramentas pesadas, vamos supor que você decida usar a ferramenta ergonômica KIM, ferramenta para análise de empurrar e puxar cargas ou volumes. A ferramenta KIM exige um formulário de coleta e algumas das perguntas, como peso da carga, características do carrinho e do solo, e distância que a carga é empurrada, já podem ser respondidas na entrevista.
4 – Fazer formulários de coleta
Após realizar a entrevista, identificar as exigências ergonômicas, atividades realizadas e quais metodologias serão utilizadas para a análise, prepare os seus formulários de coleta com todas as informações que são requeridas pela metodologia escolhida. Vale lembrar que, é claro, nem toda metodologia necessita de um formulário de coleta, por exemplo, as análises que solicitam poucas variáveis, sendo possível memorizar facilmente o que é solicitado.
5 – Levar os formulários para coleta
Não confie apenas na sua memória. Se na entrevista foram verificadas três exigências ergonômicas diferentes para analisar, que envolvem formulários de coletas por terem bastantes variáveis a serem coletadas, então é preciso levar os três formulários para o momento da coleta, para que nenhuma informação fique de fora.
6 – Leve uma prancheta
A prancheta pode ajudar o ergonomista na organização e controle de dados. Uma boa dica é durante a entrevista, quando o colaborador pontuar as exigências que ele possui, já anote na prancheta, listando todas por número. No dia seguinte, quando for fazer a coleta de dados das atividades desse trabalhador, leve a prancheta com tudo listado e já com os formulários de coleta prontos. Assim você estará preparado, com todas as informações disponíveis, sabendo de fato o que precisa ser coletado, relacionando as atividades que precisam ser coletadas, com os formulários de coleta que serão utilizados e as metodologias que serão aplicadas.
7 – Agendar a sua visita
Você não é um auditor fiscal do trabalho e sim um ergonomista consultor da empresa, por isso não apareça de surpresa. Sempre agende sua visita de acordo com a atividade que precisa ser analisada, de acordo com o momento do dia que seja importante estar presente para avaliar a atividade, as rotinas, realizando assim uma coleta totalmente direcionada. Ao chegar sem agendar ou em qualquer horário é bem possível que você perca o horário da atividade que precisava acompanhar, realizando uma visita que será pouco útil.
Converse com atenção com os trabalhadores, descubra tudo sobre as atividades e respectivas exigências ergonômicas, escolha metodologias adequadas, prepare os formulários listando todas as informações que serão necessárias e se planeje para a visita in loco. Com essas orientações, você conseguirá realizar uma coleta de dados inteligente e de forma muito eficiente, essencial para o sucesso da sua Análise Ergonômica do Trabalho.
Você tem alguma dificuldade ao realizar coleta de dados? Me conta aqui nos comentários.
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