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A Relação da Ergonomia com Acidentes do Trabalho

14 de janeiro de 2021Por Debora Dengo0

 

A ergonomia possui uma relação estreita com os acidentes do trabalho, muito maior do que muitos profissionais da área podem pensar.  A verdade é que quando o profissional da ergonomia passa a enxergar além do que é o habitual no seu dia a dia de trabalho, ele consegue  solucionar problemas que não envolvem somente a esfera da ergonomia em si. E sem dúvida os acidentes do trabalho são um fator latente em muitas empresas, algo que impacta muito negativamente a companhia, os trabalhadores e o clima organizacional como um todo.

Porém, antes de entendermos como a ergonomia se relaciona com esse tema, é importante desconstruirmos alguns mitos relacionados a acidentes do trabalho que podem ser muitos prejudiciais:

1- Erros humanos são as principais causas de acidentes

Esse mito foi criado pois é muito mais fácil atribuir um acidente a um erro humano do que fazer uma investigação aprofundada sobre o ocorrido. É errado analisarmos um acidente de forma isolada, considerando apenas a pessoa que está envolvida nele e o exato momento em que ele ocorreu, sem levar em conta as situações que fazem parte da realidade profissional do trabalhador e em tudo que aconteceu antes daquele acidente acontecer, todo o fluxo de trabalho.

2 – Aplicar normas é a chave para a não incidência de acidentes do trabalho 

Obviamente é muito importante a aplicação das normas. Elas são indispensáveis, porém só isso não basta como prevenção. Mesmo empresas que seguem todas as normas, estão sujeitas a acidentes de trabalho. Ou seja, se a empresa está cumprindo todas as normas, ela está fazendo o mínimo que precisa ser feito. E fazer apenas o mínimo, não evita acidentes e doenças do trabalho.

3 – Barreiras melhores trazem mais segurança

A questão da segurança vai muito além da criação de barreiras. O colaborador deve entender a sua importância e finalidade, para respeitá-las de fato. Mas é preciso conscientização e fiscalização e tudo isso remete a organização do trabalho, que é ergonomia pura. Antes de desenvolver uma barreira para evitar um acidente, é mais importante que o trabalhador de fato entenda a razão daquela barreira existir, para não entrar no modo automático, pois se um dia a barreira falhar, o acidente vai acontecer, pois o trabalhador não estava consciente e presente.

 

Quebrando paradigmas 

Devemos ficar atentos ao dia a dia. Quando identificamos que o trabalhador sofreu um acidente porque estava querendo terminar mais rápido devido a grande quantidade de trabalho que se acumula, se ele está sempre lidando com prazos muito apertados e assim acaba desviando dos protocolos, isso mostra que é preciso mexer na organização do trabalho, onde a ergonomia é muito atuante.

É importante quebrarmos o paradigma de erro humano como causa principal dos acidentes de trabalho. Hoje sabemos que o erro humano é a consequência de vários outros problemas existentes naquele ambiente. Quando acontece um acidente, o ergonomista, mesmo que não seja especializado em segurança do trabalho, pode sim ajudar a empresa a entender o que aconteceu, a raiz do problema. E para que esse trabalho seja eficiente, é importante que seja feito em conjunto com outros profissionais como o técnico de segurança, engenheiro de segurança, médico do trabalho e trabalhadores e gestores da área, por exemplo.

Cada vez que você questiona, é possível cavar mais profundamente até entender que talvez aquele erro humano aconteceu por que o trabalhador não tinha outra escolha, ou seja, ele não é exclusivamente culpado. Porém, ainda assim, muitas vezes por falta de tempo para uma investigação bem feita, falta de conhecimento e ao ignorar os trabalhadores, acabamos decretando a falha humana como causa.

Não devemos negligenciar os sinais que o trabalhador nos dá. Muitas faltas, queixas, uma dor nas costas, um corte pequeno… São sinais que podem parecer banais, mas quando ignorados podem resultar em um acidente de trabalho. É a partir do erro humano que começa a análise do acidente. É importante questionar: o trabalhador realmente foi negligente ou ele não tinha outra opção melhor para executar o trabalho naquele momento?

Aconteceu algum imprevisto naquele momento que fez com que ele executasse de forma equivocada o trabalho, provocando um acidente, mas que agora podemos prever esse improviso para evitar que aconteça novamente?

Ergonomia e acidentes do trabalho

Um estudo realizado por Hudson e Dennis Couto reanalisou, sob a ótica da ergonomia, 983 acidentes de trabalho que ocorreram em empresas de vários setores no Brasil. E o resultado é que 41% dos acidentes, ou seja, 405 deles, tinham como forte fator uma má ergonomia. Isso prova como a área é uma importante aliada da segurança do trabalho para reduzir os acidentes e zelar pela saúde dos trabalhadores.

Aqui não iremos abordar a fundo a metodologia utilizada pelos autores, porém a pergunta inicial que deu início a vários porquês e desdobramentos foi: o trabalhador que teve o ato inadequado tinha outra condição de comportamento que não fosse aquela?

 

Principais fatores de risco encontrados no estudo 

1 – Ferramenta inapropriada ou inexistente 

Esse fator foi encontrado em 21% dos acidentes. Quando o trabalhador não possui a ferramenta adequada, muitas vezes ele precisa improvisar. Terá que fazer mais força, posturas inadequadas, utilizar o corpo para auxiliar na atividade. E tudo isso é muito perigoso. Vale lembrar também que, mesmo que ele conte com as ferramentas corretas, elas devem receber manutenção periódica, para funcionarem perfeitamente.

2 – Layout inadequado 

O layout inadequado estava presente em 18% dos acidentes. Se não existe espaço suficiente para transitar com uma carga, por exemplo, o trabalhador pode bater em algum lugar, cair, não conseguir desviar de um objeto e sofrer um acidente.

Às vezes isso acontece pois a empresa cresce muito rápido e não tem tempo hábil para fazer obras, ajustes, investimentos e acaba oferecendo um local inadequado para os trabalhadores.

Outro problema grave é o layout errado na concepção do projeto. Quando um espaço de trabalho é projetado sem um olhar ergonômico, a chance de problemas é muito grande. Por isso, é primordial que arquitetos e engenheiros também recorram a visão de um ergonomista no caso de projetos corporativos/industriais.

3 – Padrão operacional não contemplava a ergonomia

Esse fator foi encontrado em 17% dos acidentes. Isso acontece quando a empresa desenvolve uma atividade a ser feita, uma linha de produção ou um setor, mas não envolve a ergonomia na concepção. Ou seja, só é pensada a parte técnica.

4 – Posturas forçadas do tronco

Esse foi um problema encontrado em 16% dos acidentes. Muitos são os fatores que podem contribuir para posturas forçadas: o layout do local que o funcionário realiza a atividade é ruim, o mobiliário que não contempla a antropometria das pessoas que ali trabalham, regulagens de altura erradas, etc.

5 – Sobrecarga física ou mental 

Quando está sobrecarregado, físico e mentalmente, o trabalhador canaliza sua atenção apenas para realizar aquela tarefa do modo mais rápido, sem se atentar para as questões de segurança. E é assim que acidentes podem acontecer.

6 – Meio inadequado de manuseio de carga 

Vamos avaliar: um trabalhador que tenha que manusear 50 quilos, 500 vezes por dia, está trabalhando de forma segura? É impossível, mesmo que a empresa esteja seguindo as demais normas.

Os três pilares da ergonomia são segurança, conforto e eficiência. Ao trabalhar desta forma ele não está seguro, não está confortável e provavelmente não conseguirá ser eficiente por muito tempo.

7 – Acessos inadequados 

Escadas e rampas inadequadas podem causar acidentes graves. Existem normas, como a NR 12, que indicam medidas como largura, altura do degrau e inclinação corretas e devem ser seguidas à risca.

8 – Esforços intensos 

Quando realiza uma atividade de muito esforço físico, o colaborador deposita ali toda a sua energia. Ele não dissipa essa energia em medidas de segurança, protocolos. Tudo que não é essencial para realizar a tarefa ele vai ignorar, já que está sob um grande esforço.

9 – Equipamento ou máquina inadequada 

Da mesma forma que as ferramentas devem ser analisadas, os equipamentos e máquinas também devem passar por uma avaliação, atendendo aos direcionamentos da ergonomia.

10 – Visão comprometida 

A visão determina a posição da nossa cabeça e do nosso corpo perante uma atividade. Por exemplo, eu só irei flexionar o meu pescoço, se tiver que olhar para algo que está embaixo. Quando a visão está comprometida, eventualmente será preciso adotar posturas extremas para conseguir enxergar e realizar a atividade e quando você faz isso, é possível perder o equilíbrio e cair, sofrendo um acidente.

11 – Alturas excessivas 

Esse tipo de situação também pode comprometer o equilíbrio, já que provavelmente o trabalhador precisará adotar uma postura extrema para lidar com a altura inadequada da execução dessa tarefa.

12 – Sobrecarga ligada a duração da jornada 

Longas jornadas fazem com que o trabalhador perca o foco, estando mais propenso a uma queda, ou possíveis distrações, já que ele estará mais cansado e sobrecarregado.

13 – Ambiente inóspito 

Um local de trabalho com temperaturas inadequadas compromete a saúde, o rendimento e a segurança do trabalhador. Quando consideramos ambientes externos é ainda mais difícil controlar a temperatura. Neste caso, é preciso adotar medidas de controle que irão mitigar o risco.

 

Analisando toda a lista, entendendo os fatores e os porquês, um dos pontos mais marcantes é que os acidentes ocorriam mesmo com os trabalhadores fazendo tudo que estava designado na tarefa prescrita, seguindo todo o procedimento operacional. E por que isso aconteceu? Por que faltou ergonomia de concepção das atividades, o passo a passo para realizá-las de uma maneira ergonômica. Devemos lembrar que a ergonomia não deve estar associada apenas às máquinas, equipamentos ou postos de trabalho. Ela deve estar presente na forma de realizar a tarefa, nos movimentos executados pelo trabalhador, na prática do dia a dia.

Se as empresas contratassem um ergonomista para fazer a ergonomia de concepção da atividade desde o início de sua implantação, avaliando se ela está adequada, iríamos prevenir muitas doenças, afastamentos e acidentes. Isso é vantajoso para o trabalhador e também muito positivo para a empresa, já que prevenir é mais barato do que remediar. Quando a ergonomia e a segurança do trabalho andam juntas, todos só têm a ganhar!

Aproveitando, compartilho alguns exemplos que mostram situações de risco para os trabalhadores, que realizam suas atividades sem os equipamentos necessários e em locais que não oferecem a mínima segurança ou estrutura:

    

 

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Por Debora Dengo

Debora Dengo é formada em Fisioterapia com especialização em Ergonomia, Auditoria e Saúde do Trabalhador pela Universidade Positivo, atua há 7 anos com Ergonomia e Saúde do Trabalhador em dezenas de empresas. Possui Formação técnica e cursos pela EPM – International Ergonomics School e Escola Ocra Brasiliana em Check List Ocra, Niosh by Ocra, Ciclos Longos e Alta Precisão e MAPHO. Além de outras ferramentas de análise de risco ergonômico. Tendo total domínio de todas as ABNT NBR ISO de Ergonomia e Normas Regulamentadoras de Ergonomia. Também é mentora de centenas de ergonomistas por todo o Brasil ensinando em suas mentorias como realizar Análises Ergonômicas do Trabalho nas empresas.

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© 2020 Soluções Ergonômicas – CNPJ: 30.031.016/0001-22

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