As ferramentas ergonômicas são um dispositivo de auxílio na tomada de decisões ao fazermos o diagnóstico de uma Análise Ergonômica. Seu uso não é obrigatório e o ergonomista não deve se tornar dependente, afinal não existe como diagnosticar e ser assertivo na Análise Ergonômica somente através da aplicação de ferramentas. Neste artigo publicado no blog eu falo, inclusive, se é necessário conhecer todas elas.
Atualmente existem mais de 100 ferramentas ergonômicas disponíveis, porém a melhor ferramenta ergonômica para o ergonomista continua sendo o seu cérebro. É a nossa cabeça pensante que busca, questiona, estuda, investiga, reflete. Sem ela nenhuma ferramenta ergonômica será eficaz. Não adianta você ter os números que a ferramenta entrega se não sabe o que fazer com aquele resultado ou não entende o que ele significa.
Por isso, antes de descobrir como escolher as ferramentas ergonômicas, é importante entender quando usá-las:
1- Ajudar a confirmar uma hipótese
Se você já foi a uma empresa, entrevistou os colaboradores, observou a atividade, analisou o posto de trabalho, ou seja, já fez uma análise detalhada in loco, provavelmente levantou algumas hipóteses, como por exemplo: a postura está ruim; a carga está pesada, o carrinho que o colaborador empurra não é o ideal. Nesses casos, a aplicação da ferramenta ergonômica correta pode te auxiliar a confirmar essas hipóteses.
2 – Auxiliar no processo de gestão
Muitas vezes quando estamos fazendo a gestão dos processos de ergonomia nas empresas, os executivos nos pedem números para fazer comparações, pois essa é a forma de gerenciamento que eles utilizam. Como a maioria das ferramentas ergonômicas nos dá dados quantitativos, elas podem ser boas aliadas para essas comparações numéricas do antes e o depois de uma implementação de melhoria ergonômica ou para a simulação antes de implementar.
3 – Ajudar no diagnóstico
Em algumas situações pode ser mais difícil dar um diagnóstico de maneira qualitativa ou observacional, então nesses casos é recomendável utilizar ferramentas para nos auxiliar no resultado final, claro, sempre associado a todo o levantamento em campo, entrevistas, observação direta.
Embora as ferramentas ergonômicas sejam úteis, é importante saber se a escolhida condiz com o que você está analisando, caso contrário ela será inútil ou pior, poderá indicar um resultado errado, prejudicando toda sua Análise Ergonômica. Alguns erros são mais comuns quando tratamos de ferramentas ergonômicas. Muitos ergonomistas se tornam reféns do seu uso, mas vale lembrar que existem diversas formas de realizar uma análise, seja através de entrevistas, observação direta, censo dos trabalhadores.
Também é importante lembrar que não existe ferramenta que avalie função, com exceção do Mapho, que foi desenvolvido na sua essência para avaliar equipes de enfermagem que fazem manuseio de paciente. Uma ferramenta ergonômica é desenvolvida para avaliar articulações, atividades, exigências ergonômicas. Uma função, por mais que ganhe o mesmo nome, varia muito de empresa para empresa, as atividades nunca são as mesmas. Por isso não é possível uma ferramenta avaliar uma função como um todo.
Por isso é tão difícil responder a uma pergunta do tipo: “Debora, qual ferramenta eu uso para avaliar a função X”? Depende! Qual é a atividade que você quer avaliar dentro dessa função? Qual parte do corpo? Qual exigência ergonômica? Essas são as perguntas que vão te guiar para a escolha consciente do uso de uma ferramenta ergonômica.
É preciso entender o conceito de ferramenta ergonômica. Dentro desse contexto, você vai olhar para aquela função e identificar quais são as articulações que estão sendo exigidas nas atividades, verificar quais são as exigências ergonômicas ali, fatores de risco presentes ou a atividade em si, para então conseguir fazer o link com as ferramentas existentes e assim selecionar a que você vai utilizar.
Existem raras exceções em que o cliente pode exigir o uso de determinada ferramenta ergonômica. Nesses casos é importante avaliar se faz sentido usar a ferramenta requisitada naquela situação e se você de fato já conhece aquela ferramenta. Se faz sentido usar, mas você não sabe nada daquela ferramenta, você pode correr atrás para aprender ou delegar para quem sabe. Caso seja uma exigência do cliente, mas que não faz sentido, o correto é explicar para ele porque não irá funcionar aplicar determinada ferramenta na situação de trabalho em questão.
Como escolher as ferramentas ergonômicas
1 – Entrevista com os colaboradores
A entrevista vai te guiar para as exigências ergonômicas que aquele trabalhador possui. No momento da conversa, ao explicar sobre o dia a dia de trabalho, as atividades que realiza, os desafios que enfrenta, ele te guia para quais articulações do corpo ele mais utiliza, quais exigências ergonômicas existem. Por isso, a entrevista é o primeiro passo para a escolha da ferramenta correta.
2 – Encontrar a exigência ergonômica
A partir da entrevista você irá descobrir as exigências ergonômicas, os fatores de risco. Tem postura estática? Tem manuseio de carga? O colaborador puxa ou empurra um carrinho? Quais equipamentos ele usa? Você terá respostas para todas essas perguntas. Feito isso, você vai checar se para avaliar aquelas exigências, aqueles fatores de risco, é necessário uma ferramenta ergonômica.
3 – Preciso de ferramenta? Sim ou não?
Após realizar a entrevista e encontrar as exigências e fatores de risco, você deve avaliar se precisa ou não de uma ferramenta para avaliar tais questões. Às vezes não é necessário e assim pode usar leis, normas, literatura. Se a resposta for sim, basta seguir para o quarto passo.
4 – Quais ferramentas disponíveis para essa exigência ou articulação?
É preciso fazer um levantamento de tudo que temos no mercado em literatura, orientativo de norma, orientativo de ISO, quais são as ferramentas ergonômicas que vão avaliar essas exigências ergonômicas levantadas, as articulações solicitadas. Vamos supor que eu encontrei uma exigência de manuseio de cargas. Quais ferramentas eu tenho disponíveis? Niosh, Lifft. Para analisar carga mental? Ergos Carga Mental, Nasa-TLX. E assim por diante…
É possível comprar ferramentas através de softwares como o Ergolândia, adquirir em cursos e também buscar por ferramentas gratuitas. O mais importante é o ergonomista entender que a ferramenta ergonômica é apenas um auxílio, que seu uso não é obrigatório e o profissional não deve se tornar refém. Estude, conheça e domine as ferramentas que fazem sentido para você, mas não se esqueça que as entrevistas com os funcionários, a observação in loco da realidade da empresa, além da sua experiência e bom senso, são primordiais para a realização de uma boa Análise Ergonômica. O cérebro é a melhor ferramenta do ergonomista.
Ficou curioso para saber mais sobre Ferramentas Ergonômicas? Confira também este artigo publicado no blog! E me conte nos comentários sobre as ferramentas que você mais usa.
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