A gestão da ergonomia acontece após o levantamento dos riscos ergonômicos pela AET ou agora também pela AEP. Depois da entrega do “laudo”, que é o estudo das situações de trabalho avaliadas, onde estão os riscos diagnosticados e as soluções propostas com as possíveis soluções (afinal, as soluções ainda serão testadas para constatar se realmente irão solucionar os riscos), o ergonomista irá tentar reduzir ou eliminar os riscos. Nesse ponto, já entra a gestão da ergonomia.
Um ponto que merece destaque é a diferença da gestão de ergonomia entre hospitais públicos e hospitais privados. Tecnicamente, não deveria haver diferença, entretanto, na prática há uma diferença grande na questão orçamentária. Os hospitais públicos, geralmente, vão demorar muito mais para a implementação das soluções ergonômicas em razão da demora para receber a verba, já que as aprovações demoram muito, entre outros pontos burocráticos. As empresas privadas – comumente – têm mais saldo disponível e as aprovações são mais aceleradas. Ou seja, cada hospital tem a sua política de liberação de verba para soluções ergonômicas.
De forma objetiva, a ergonomia em hospitais é igual a qualquer outra empresa, ou seja: será feita uma AEP e, posteriormente, uma AET, e será feito o plano de ação para a redução ou eliminação dos riscos encontrados. Até esse ponto, é bastante idêntico. Os pontos de divergência são atrelados à dinâmica dos hospitais, que são bem diferentes, afinal, desde a estrutura até o tipo de serviço são bem diferentes aos outros tipos de setores do mercado.
Com base nisso, a gestão da ergonomia em hospitais podem ser definidas em seis etapas:
O primeiro passo consiste na apresentação dos resultados oriundos da AEP ou da AET para a gerência do hospital, que são os gerentes, gestores, o SESMT, a diretoria e outros possíveis interessados/envolvidos. Os resultados são: quais foram os riscos encontrados, porque eles existem e as sugestões que você vai dar de soluções ergonômicas para esses riscos.
Depois da AET, é crucial fazer imediatamente os treinamentos de ergonomia, porque muitos riscos já conseguem ser eliminados, como por exemplo: o treinamento de posturadurante o dia a dia de trabalho elimina cerca de 80% das flexões de coluna dos trabalhadores de hospital. Para assegurar que o treinamento surtirá efeito, é importante ter as blitz posturais e as auditorias internas para verificar se estão executando o que foi ensinado.
Um grande risco ergonômico que existe nos hospitais é o manuseio manual de pacientes. A maioria dos pacientes ou são muito debilitados, de tal forma que não conseguem auxiliar durante o manuseio, então toda a sobrecarga vai para a coluna dos técnicos de enfermagem ou para os enfermeiros; ou grande parte além da debilidade, também têm sobrepeso acima de 100kg. Sem dúvida, a aquisição de equipamentos de auxílio para o manuseio de pacientes é um ponto imprescindível da gestão, trocando manuseio manual pelo manuseio mecânico. Além do peso de cada paciente, os profissionais precisam fazer esse trabalho manual mais de uma vez por dia com vários pacientes.
A tendência é que os hospitais privados tenham riscos menores para manuseio de pacientes, porque têm menos pacientes por profissional do que no hospital público. Por exemplo: a média dos hospitais que eu atendi eram dois pacientes por técnico de enfermagem em hospitais particulares, enquanto que nos hospitais públicos eram seis pacientes por técnico de enfermagem. Além dessa diferença brusca de número de pacientes por profissional, que aumenta a sobrecarga da coluna nos manuseios, os hospitais privados têm muito mais equipamentos de auxílio para manusear os pacientes. Por outro lado, há vários hospitais públicos que não possuem equipamento de auxílio, sendo o trabalho somente braçal.
Nessa grande fase, após os equipamentos e acessórios para auxílio no manuseio de pacientes terem sido adquiridos, é necessário implementá-los na rotina dos profissionais. Exemplo: o hospital adquiriu um elevador (também chamado de transfer ou guincho) de pacientes. Após a chegada do equipamento, o profissional de ergonomia deverá aprender como usá-lo da melhor maneira possível (ou seja, aproveitando todas as funcionalidades importantes do equipamento), depois irá treinar todas as equipes para usar aquele equipamento de auxílio, porque nenhum equipamento é utilizado dentro da ergonomia sem treinamento, a equipe fica insegura.
O profissional de ergonomia não pode superestimar que a equipe sabe usar; se não treiná-los, eles não vão saber. Após a realização do treinamento, o equipamento oficialmente começa a ser utilizado naquele setor. Uma dica: antes de comprar várias unidades da solução ergonômica para todo o hospital, é interessante comprar apenas uma unidade ou poucas unidades e fazer o teste com algumas equipes para ir analisando se aquele equipamento tem potencial de resolver/minimizar o risco através dos feedbacks dados pelas equipes no momento do treinamento. Lembre-se: quem diz que a solução ergonômica proposta pelo ergonomista é realmente eficaz é o trabalhador, pois será ele quem a utilizará no dia a dia.
É válido destacar que, mesmo nos hospitais privados, as aprovações de orçamento para aquisições das soluções nem sempre é algo rápido, sendo geralmente adquiridos no próximo ano após a finalização da AET. Então o ergonomista precisa ter paciência para cumprir essa etapa. Para acelerar o processo, é interessante auxiliar nos orçamentos para garantir que a aprovação seja feita no próximo ano.
Dica extra: para a manipulação dos pacientes, o profissional de ergonomia pode sugerir ao hospital a compra de cintos ergonômicos para a transferência de pacientes que não perderam totalmente a mobilidade, que reduzem a carga do manuseio do paciente através de alças localizadas dos lados. É uma solução razoavelmente barata e que auxilia bastante na rotina. Outra opção, dessa vez com um preço mais elevado, é o elevador de pacientes, que, de maneira elétrica, faz a transferência dos pacientes que não conseguem ficar em pé, sem exigir esforço do profissional.
Após a implementação do equipamento no dia a dia da equipe e o uso dele por pelo menos 30 dias, é necessário fazer uma validação daquela solução ergonômica implementada. Antes desse período é a fase de adaptação e o funcionário poderá não dar um feedback real, muitas vezes acreditando que o equipamento piorou a rotina deles. Não é que a rotina se tornou pior, mas sim a fase de adaptação da nova rotina. Sendo assim, para assegurar que o feedback está traduzindo a realidade, é preferível que seja consultado após 30 dias.
Depois que os riscos oriundos da última análise ergonômica foram tratados, aquela análise ergonômica que foi feita não é mais válida para aquilo que mudou, seja o setor ou o cargo, exigindo a atualização da análise e do documento. Então, o ergonomista faz uma atualização informando que aquele risco ergonômico não existe mais ou que foi reduzido, tendo em vista que a solução ergonômica foi implementada, seja através de um equipamento ou uma medida de controle que está ajudando. Isso é um ciclo contínuo, pois a análise é feita em todos os riscos existentes em todos os setores, cargos e atividades que têm risco e solução ergonômica.
O retorno pode demorar alguns meses, porque lentamente irá diminuindo as faltas das equipes em razão da redução dos atestados e/ou acidentes. Você irá notar a redução de faltas, queixas, afastamentos e atestados médicos. É óbvio que isso trará um ganho para cada profissional e para o financeiro do próprio hospital, que irá diminuir os gastos com os acidentes no trabalho, com INSS e com auxílio doença. Há setores que, com 1 mês da implementação e uso dos equipamentos no dia a dia, já obtiveram retornos expressivos.
É importante destacar que a fase de implementação das soluções não depende apenas do profissional de ergonomia, mas sim do setor financeiro, compras, gerência do hospital. Entretanto, quanto mais pessoas estiverem envolvidas dentro do trabalho ergonômico que você está realizando no hospital ou em qualquer ramo, melhor, pois será mais rápido para conseguir aprovações de orçamentos para acelerar o processo de melhorias. É importante ter paciência, pois o hospital têm várias outras prioridades também, mas uma coisa é certa: você verá o resultado do seu trabalho.