A ergonomia, sem dúvida, é uma área muito rica e que já me permitiu viver situações das mais variadas. E todas serviram também como um aprendizado, me ajudando a crescer cada vez mais profissionalmente. Neste texto, vou contar um pouco sobre as minhas cinco experiências mais inusitadas em ergonomia, para que você possa conhecer um pouco mais sobre a área e o que ela pode te proporcionar.
1 – Treta na Produção
Em 2013, na minha primeira experiência com a ergonomia, eu atuava em uma gráfica e realizava alguns trabalhos como ginástica laboral, blitz postural, quick massage, auditoria de equipamentos e de ergonomia, análise ergonômica, treinamentos de ergonomia, etc. Nesta empresa havia uma funcionária que apresentava muitas queixas e atestados médicos relacionados ao ombro. Assim, me pediram para fazer uma AET das atividades que ela desempenhava, justamente para descobrir se a queixa e o trabalho executado tinham relação de fato e então poder recomendar as soluções ergonômicas mais adequadas.
Porém, além de ser ainda muito inexperiente na área da ergonomia, eu não recebi o direcionamento correto dos meus superiores. Marquei para realizar a coleta de informações com meus equipamentos de medição, filmagem e fotos, sem fazer uma entrevista prévia com a funcionária, sem explicar direito quem eu era e o que eu estava fazendo ali e o resultado, é claro, foi negativo. A colaboradora ficou super irritada com a situação, me questionando, impedindo a filmagem e as coletas de dados e veio pra cima de mim furiosamente. O líder do setor, que também não tinha sido corretamente informado, precisou intervir e tentar contornar a situação.
Após o ocorrido, conversei com a minha chefe, que ficou preocupada, pois essa funcionária era a única que desempenhava aquela atividade, ou seja, não era possível fazer a coleta com outro funcionário para analisar a atividade, somente com ela. Sugeri então que usássemos as imagens da câmera de segurança que ficava instalada no local em que a colaboradora trabalhava, o que não era ideal, mas se mostrou como a única solução. Após conseguirmos todas as autorizações, utilizei as imagens das câmeras de segurança da empresa, que mostravam o ciclo de trabalho completo e consegui fazer a análise, onde foi descartada a relação da queixa da funcionária com as atividades que ela realizava na empresa.
A funcionária trabalhava em uma atividade de qualidade, onde a maior parte do ciclo inspecionava o produto que rodava na linha de produção, descartando todos os fatores de risco relacionados ao ombro. Mais tarde, descobriu-se que no contra turno da empresa ela era cabeleireira e que provavelmente as queixas vinham deste trabalho paralelo.
Mesmo que tudo tenha dado certo no final, essa experiência que passei mostra o que pode acontecer quando você pula as etapas de uma AET e também a importância de contar com pessoas mais experientes, que possam te direcionar quando você encara uma situação inédita na sua carreira. Talvez, se eu tivesse me apresentado bem antes, conversado com a funcionária, feito uma boa entrevista, nada disso teria acontecido.
2 – A melhor Coxinha do Mundo
Uma vez, quando já atuava com a minha consultoria, recebi um pedido de orçamento para um serviço de ergonomia, que por coincidência, era do restaurante da minha coxinha favorita. Fiquei super animada. Enviei a proposta comercial para a análise ergonômica e para o treinamento de ergonomia e no final, no corpo do email, mencionei que eu amava a coxinha do restaurante. Resultado: fecharam o serviço comigo e ao finalizar o trabalho, me deram uma caixa com 30 coxinhas, o que foi muito simpático da parte deles. Como não amar trabalhar com ergonomia e poder ter essas experiências?
3 – Manicure de Elefante
Já tive a oportunidade de realizar uma análise ergonômica em um zoológico, o que foi algo incrível, pois sou apaixonada pela natureza e pelos animais. O trabalho deles era maravilhoso e muito profissional, diferente de muitas situações que encontramos na área. Um dia, ao olhar as funções que precisava analisar, descobri a função de casqueador, até então nova para mim, que é o profissional (veterinário especializado) que realiza a limpeza e cuidado dos cascos dos animais de grande porte. Para realizar a coleta, foi incrível acompanhar o trabalho desses profissionais e o atendimento a um elefante, como se estivesse de fato fazendo as unhas em um salão – lixando, cortando, recebendo os cuidados necessários, com toda a preparação que a atividade pedia. Realmente foi uma das coisas mais lindas que eu já vi: um elefante de 4 toneladas colocando gentilmente suas “patinhas” no suporte para o casqueador fazer as suas unhas! Algo único que só a ergonomia poderia me proporcionar.
4 – O Melhor Treinamento de Ergonomia do Mundo
No começo, durante um tempo na minha carreira, eu atuei com ergonomia como prestadora de serviço para uma empresa de saúde e segurança ocupacional. Era comum que eles me passassem demandas de treinamentos ergonômicos para escritórios, sempre com as mesmas informações básicas: data, tempo de duração, nome da empresa, endereço e contato do responsável. Porém, dessa vez, a demanda foi diferente e ninguém me avisou.
Ao chegar à empresa, que ficava bem distante da cidade, descobri 5 minutos antes de começar, que seria um treinamento para manuseio manual de cargas, algo que eu nunca tinha feito antes. Apesar de ter o conhecimento de articulações, coluna e fisiologia, pois sou fisioterapeuta, eu não havia preparado nenhum material voltado para isso e sim para um treinamento ergonômico de escritório, e não iria atender aqueles trabalhadores.
Assim, resolvi usar meus conhecimentos sobre o corpo humano combinado com ergonomia e fiz um treinamento totalmente interativo e dinâmico, com exemplos práticos, simulações, contando a participação ativa dos funcionários. Não havia nenhum material impresso, slides imagens ou vídeos, afinal, não era esse tema que eu esperava. No final, foi um grande sucesso. Impressionante como às vezes, no improviso, conseguimos nos sair muito melhor do que com horas de ensaio.
5 – Uma Análise Ergonômica Radical
Essa, com certeza, foi uma das experiências mais inusitadas que eu já tive. Em um autódromo, existem as atividades da bilheteria, borracharia, os auxiliares de serviços gerais, a equipe de imagens e som e também…os pilotos. Sim! Eu precisei andar em um carro de corrida pelo percurso do autódromo para analisar a atividade deles, o que foi algo único na minha vida.
Sei que nenhum outro trabalho poderia me dar todas essas experiências e histórias para contar. A ergonomia proporciona isso, já que é uma área muito ampla. Qualquer empresa que possua funcionários precisa da ergonomia. Já fiz análises de bailarinos, atores, da minha marca de café favorito, enfim, muitas vivências inesquecíveis que marcaram minha jornada.
E você? Já teve alguma experiência inusitada com ergonomia? Me conta aqui nos comentários.
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