Uma das dúvidas mais comuns do universo da saúde do trabalho é a eficácia do cinto lombar. Essa órtese geralmente é utilizada por profissionais que possuem uma rotina de manuseio de cargas pesadas ou movimentação intensa da coluna. Mas será que ela é realmente a melhor opção quando pensamos na segurança do trabalhador?
Em 1992, diretores do Instituto Nacional de Segurança e Saúde Ocupacional (Niosh), nos Estados Unidos, realizam um amplo estudo sobre o tema e concluíram que não há provas da eficácia do uso desse tipo de cinto para a diminuição dos riscos de lesões na lombar. A partir dos resultados trazidos pela pesquisa, o Niosh não recomenda o uso do cinto como meio para proteção de lesões lombares, sendo obrigatório a prescrição médica no caso de lesões pré-existentes.
Ainda segundo o Instituto, o cinto não pode ser considerado um Equipamento de Proteção Individual (EPI) e não há dados suficientes que comprovem que ele diminua significativamente a carga biomecânica no tronco durante o manuseio, ou seja, não absorve parte da carga que iria para a coluna. Além disso, ele pode produzir uma restrição temporária do fluxo cardiovascular, prejudicando a circulação sanguínea. Por fim, o estudo conclui que o meio mais eficaz de diminuir lesões é implantar um programa abrangente de ergonomia, que vai trazer benefícios consistentes na solução de problemas.
Dentro desse programa abrangente, devemos considerar:
– Avaliação ergonômica das tarefas e dos postos: É nos postos que podemos avaliar as alturas, distâncias, se o funcionário caminha com a carga ou não. É um estudo que leva em consideração tanto a tarefa quanto o layout do local que a pessoa tem para fazer o manuseio da carga e seu trabalho;
– Programa contínuo de treinamento: Através dele é possível corrigir os vícios posturais, fazendo com que o trabalhador abandone hábitos que muitas vezes ele repete sem perceber;
– Programa de gerenciamento médico da saúde do trabalhador: É muito importante o acompanhamento dos números que indicam afastamentos, melhoras, diminuição de queixas, para acompanharmos a evolução da estratégia que está sendo colocada em prática.
No Brasil, o Ministério do Trabalho não reconhece o cinto lombar como um EPI. A lista completa de EPIs considerada pelo órgão pode ser encontrada na sexta norma regulamentadora do trabalho (NR 06), no Anexo I. Em 2018, a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT) realizou uma revisão de literatura, que resultou em uma diretriz técnica para o uso ou não da cinta lombar. Entre os estudos elegíveis, os especialistas puderam afirmar que os resultados não foram consistentes para prevenção de lombalgia e não existem benefícios de seu uso na diminuição do absenteísmo, que muitas vezes ocorre pelos funcionários apresentarem dores frequentes.
Os resultados das pesquisas servem para corroborar a importância de um programa estruturado de ergonomia para a melhoria de problemas ligados à dores lombar, lombalgia e outras lesões da mesma natureza. Essa atuação é muito mais responsável e eficaz do que a recomendação do uso isolado de uma órtese. Para termos resultados positivos, é importante realizar um estudo de atividades do posto de trabalho, com uma análise ergonômica do que existe de risco para levantamento de carga e a partir daí, realizar as melhorias de acordo com a altura de pega e entrega, a distância de deslocamento, rotação ou inclinação de tronco, peso da carga, layout do local de trabalho, frequência de levantamento.
São muitas variáveis a serem analisadas. O mais importante para um resultado final positivo é fazer um trabalho de base, agindo para encontrar a causa dos problemas e então olhar para a solução de melhoria, que trará resultados mais consistentes e de longo prazo para os funcionários e também para a empresa.
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