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GESTÃO DE ERGONOMIA EM FRIGORÍFICOS

9 de fevereiro de 2021Por Debora Dengo0

Recentemente abordamos por aqui o valor da ergonomia para o trabalho em empresas frigoríficas, que você pode conferir neste post completo. Porém, além da  importância da realização de uma boa Análise Ergonômica do Trabalho, a gestão dos riscos ergonômicos encontrados é fundamental para o sucesso de todo o trabalho.

A Análise Ergonômica é o principal documento e pontapé inicial, fundamental para mapear as situações e riscos ergonômicos. O ideal para facilitar a gestão é que ela seja um documento fácil de atualizar, dinâmico, para que o profissional de ergonomia possa atualizar as análises e melhorias de forma prática e rápida.

Pode ser interessante trabalhar com formulários de análise ergonômica ao avaliar determinadas funções, que podem ser anexados ao documento base da AET. Para isso, o uso de fichários pode ser uma boa saída. Sempre que o profissional de ergonomia precisar incluir uma nova página, sinalizar uma adequação ou melhoria, basta incluir no fichário. Vale lembrar que ao incluirmos melhorias é importante quantificar, mostrando como era antes e o que foi conquistado posteriormente.

 

A IMPORTÂNCIA DE QUANTIFICAR

Empresários e gestores de forma geral gostam muito de números, afinal é através deles que conseguem acompanhar e mensurar os resultados do negócio. Portanto, se você é um profissional de ergonomia e precisa apresentar dados para os gestores de uma empresa, busque quantificar, adotando uma classificação de risco, avaliando dados como a gravidade, a probabilidade e o controle.

Para avaliar as probabilidades, é preciso verificar se existem ocorrências, queixas e se elas são frequentes. Já a gravidade é possível avaliar através das ferramentas, como ISOs. É importante observar se existe o risco e se ele pode gerar uma lesão.  Na organização é preciso  avaliar se existem bons planos de controle na empresa, ou seja, se medidas já estão sendo tomadas para que o risco seja eliminado. Cheque, por exemplo, se existe rodízio para diminuir o tempo de exposição do trabalhador aos riscos ergonômicos existentes.

Esse formato de organização do trabalho da ergonomia em “números”, facilita quando precisamos realizar a apresentação do plano de ação para diretores ou gerentes daquele frigorífico. Se você identifica que existe uma situação intolerável, ela deve ser priorizada de forma imediata. Já uma classificação baixa indica ausência de risco. Assim, fica muito mais fácil já sair da reunião com os prazos de execução definidos.

Não é uma regra, mas o ideal é que o profissional da ergonomia consiga apresentar o plano de ação a cada seis meses, assim é possível mostrar o andamento do cronograma, as melhorias e demais resultados. Vale lembrar que nada deve ser engessado e o ergonomista também deve estar aberto a outras sugestões da chefia que possam ser positivas.

 

COMO TRABALHAR COM A GESTÃO NA EMPRESA 

Uma das formas mais eficazes de realizar essa gestão é criar um Programa de Ergonomia para a empresa, justamente para gerenciar os riscos levantados na AET. É importante que todos saibam o que é o programa de ergonomia, para que ele serve e quem são os responsáveis. Essas informações podem ser inseridas em um documento base. O objetivo geral deve ser estabelecer uma política preventiva para a saúde dos trabalhadores. Já o objetivo específico,  criar diretrizes para mapeamento, controle, eliminação e tratamento das queixas e do adoecimento do trabalhador.

É interessante divulgar isso em toda companhia, com cartazes nos setores, explicando que existe um programa de ergonomia, o que é, para que serve, quem são os envolvidos. Os trabalhadores devem estar cientes da existência do programa e também devem saber quem está envolvido nesse processo, quem são os responsáveis. Da mesma forma, é importante que o profissional de ergonomia se faça conhecer, visite o chão de fábrica, conheça quem está envolvido no processo produtivo. É a partir do Programa de Ergonomia que surgem as ações, como algumas listadas abaixo:

Vigilância ativa

Aqui contamos com ferramentas que nos ajudam a mapear os pontos críticos da empresa e focar as ações de forma mais assertiva. É possível aplicar os Censos de Ergonomia, que devem ser realizados com os trabalhadores de forma periódica com o objetivo de averiguar queixas, checar como está o conforto no trabalho, pontos de melhoria, etc.

É possível usar também a Avaliação Cinésio-Funcional com Abordagem Ergonômica, que consegue traçar um perfil físico e postural do trabalhador e suas predisposições a lesões, identificar se o trabalhador apresenta alguma alteração relacionada às questões de força, mobilidade, amplitude de movimento e doenças pré existentes. Já para avaliar fadiga, pode ser  utilizado o Questionário Bipolar. Essa é feita por um fisioterapeuta.

Vigilância passiva

Um tipo de vigilância passiva é a Planilha Epidemiológica de Queixas Osteomusculares, que pode ser preenchida pela enfermeira do ambulatório da empresa ou pela equipe técnica. É importante que a planilha informe o setor, a função, a queixa que está sendo apresentada, a quanto tempo ela existe e a ação que foi realizada (administração de remédio, encaminhamento médico ou de fisioterapia, etc).

Esse tipo de controle é importante para entender se as queixas se repetem, se são persistentes, se isso acontece em massa em determinado setor.  Por exemplo, às vezes o trabalhador forçou um pouco mais e gerou um desconforto lombar naquele dia, mas foi algo pontual. Porém, o trabalhador que toda semana vai ao ambulatório tomar um analgésico, já indica um problema e nesse caso é preciso mapear. A planilha facilita justamente esse monitoramento.

Uma curiosidade é que as empresas frigoríficas de forma geral costumam fazer reuniões mensais com os líderes de todas as áreas, para a apresentação de indicadores. Nesse caso é interessante a área da saúde apresentar a situação das queixas, quantas delas foram  apresentadas com relação às questões osteo musculares, por exemplo? Às vezes, detectamos que num determinado mês houve um aumento do índice de queixas. Por que isso aconteceu? O que mudou no processo? Teve aumento de produção, algum desfalque de linha? Tudo isso deve ser questionado.

Formulário de restrição de atividade e função

Um formulário de restrição de atividade é interessante quando o trabalhador é diagnosticado com uma doença e precisa, além do tratamento médico, realizar uma restrição da atividade que exerce, justamente para se recuperar da forma correta e eficaz, mesmo que esteja tomando remédios. Ele deve reunir o nome do trabalhador, setor e qual a restrição que o mesmo precisa realizar, como por exemplo, diminuir o número de ações técnicas, evitar atividades com movimentos repetitivos, não manusear cargas, etc. Então, junto com o encarregado, é definido onde o trabalhador pode desenvolver as atividades que ele está apto, durante esse período que ele vai estar sob tratamento.

O tempo de restrição é avaliado junto com o médico e fisioterapeuta, mas geralmente vai de 3 semanas a 2 meses e depois desse período é reavaliado, antes do trabalhador retornar para o posto de trabalho. É importante que tudo esteja sempre acordado entre médico, funcionário e encarregado do setor.

Formulário de registro de melhoria e validação ergonômica 

Depois de implementar essas melhorias, é importante que o profissional de ergonomia registre e valide tudo com os envolvidos. É preciso envolver o trabalhador, a CIPA, o encarregado. Todo esse documento com o que vem sendo feito, as ações, as melhorias expostas de forma quantificada, tudo isso deve ser anexado na Análise Ergonômica e acessado de forma fácil.

Procedimento interno de rodízio

 O rodízio de atividades também deve fazer parte do Programa de Ergonomia. Pode ser interessante fazer por setor, respeitando as funções para que não ocorra desvio. É importante que os trabalhadores e encarregados recebam treinamento sobre esses rodízios, como cita a NR 36. Esse treinamento é importante para que os funcionários tenham noção sobre as alternâncias de atividades.

Mesmo que não seja possível realizar em um setor inteiro, pode ser interessante colocar uma meta, algo em torno de 75%, que é bem plausível. A NR 36 não fala de obrigatoriedade para evidenciar rodízio, mas é possível utilizar uma planilha, reunindo as atividades da função e registrando as pausas e os rodízios daquele dia, o que pode ser um procedimento trabalhoso. Vale reforçar que ainda que não seja obrigatório evidenciar, por lei o SESMT e a CIPA devem avaliar a eficácia dos mesmos.

Treinamento ergonômico admissional 

Fora os treinamentos obrigatórios de ergonomia, que devem ser realizados de forma periódica, é interessante que os funcionários recebam também um treinamento básico sobre as questões ergonômicas durante o processo admissional. É possível abordar o que é a ergonomia, os benefícios que ela traz, os riscos existentes, a importância das pausas e dos rodízios, mostrar as conquistas e melhorias realizadas com as ações implementadas naquela empresa e orientar o funcionário como proceder em caso de queixas. Não se esqueça de registrar esses treinamentos com data e assinatura para ficarem no histórico laboral do trabalhador.

Ordem de serviço 

Esse é um documento que tem uma força jurídica em caso de problemas trabalhistas. O ergonomista pode desenvolver uma Ordem de Serviço que contenha, de acordo com a função, os principais riscos aos quais os trabalhadores estarão expostos, as medidas de prevenção que a empresa implanta e orientações gerais. Deve ser produzida em duas vias, ficando uma com o trabalhador e uma com a empresa.

Treinamento para liderança 

Não basta treinar os colaboradores. Os encarregados precisam ter noção de biomecânica, questões básicas de área de alcance, posicionamento de caixas, conhecimento de normas. São eles que fazem o gerenciamento do setor e assim também possuem responsabilidade perante o adoecimento do trabalhador, por isso também precisam receber treinamento e conhecer a importância da ergonomia.

Ordem de serviço de manutenção

Esse tipo de documento estabelece um controle sobre os equipamentos solicitados para a equipe de manutenção. É interessante envolver a equipe do controle de qualidade, manutenção, gerências e SESMT, para que as áreas validem o pedido que parte do encarregado. Vamos imaginar que seja solicitado um suporte de apoio para os pés. O controle de qualidade vai orientar de que tipo de material ele deve ser feito, que atenda às exigências do Ministério da Agricultura e o SESMT vai avaliar as questões de área de alcance, de altura, para já considerar esses dados na execução do equipamento.

Atendimento ambulatorial de fisioterapia 

Sabemos que muitas ações dependem do tamanho da empresa e do tipo de contrato que o profissional de ergonomia possui, mas a opção de fazer fisioterapia na própria empresa costuma ser bem eficaz para a rápida recuperação de um funcionário do que fazer fora da empresa.  

 

Essas são algumas ações que podem ser postas em práticas quando falamos da gestão de ergonomia em frigoríficos. É claro que devemos levar em consideração vários fatores, mas o mais importante é sabermos que para a ergonomia dar certo, é preciso que ela seja abraçada por todos na empresa e que isso ocorra de cima para baixo. Os diretores, gerentes e encarregados devem dar o exemplo e inspirar os trabalhadores.

Além disso, com um programa de ergonomia, o trabalhador se sente mais protegido, valorizado e irá trabalhar com mais satisfação e segurança por saber que estão cuidando de sua saúde e bem-estar, então todos só têm a ganhar.

No início pode ser um desafio para o profissional de ergonomia ter o seu trabalho aceito, mas com as melhorias alcançadas com o passar do tempo, as pessoas passam a reconhecer e a valorizar sua atuação.

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Por Debora Dengo

Debora Dengo é formada em Fisioterapia com especialização em Ergonomia, Auditoria e Saúde do Trabalhador pela Universidade Positivo, atua há 7 anos com Ergonomia e Saúde do Trabalhador em dezenas de empresas. Possui Formação técnica e cursos pela EPM – International Ergonomics School e Escola Ocra Brasiliana em Check List Ocra, Niosh by Ocra, Ciclos Longos e Alta Precisão e MAPHO. Além de outras ferramentas de análise de risco ergonômico. Tendo total domínio de todas as ABNT NBR ISO de Ergonomia e Normas Regulamentadoras de Ergonomia. Também é mentora de centenas de ergonomistas por todo o Brasil ensinando em suas mentorias como realizar Análises Ergonômicas do Trabalho nas empresas.

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