Na ergonomia temos uma série de treinamentos, obrigatórios e não obrigatórios, muitos que inclusive fazem parte do cronograma de ações de uma Análise Ergonômica. Às vezes também o profissional de ergonomia encontra situações de risco ou de desconforto justamente relacionadas a falta de um treinamento ergonômico. Inclusive, ao detectar uma situação que pode ser melhorada com um treinamento de ergonomia, mesmo que ele não seja obrigatório, deve ser sugerido para a empresa, pois sabemos que será positivo.
Porém, antes de iniciarmos as dicas sobre como realizar treinamentos ergonômicos eficazes, vamos reforçar alguns que são obrigatórios. É importante que o profissional de ergonomia conheça todos eles, para saber quais ele pode incluir em seu portfólio de serviços.
Vale lembrar que, muitas vezes, os treinamentos obrigatórios são a porta de entrada para os profissionais de ergonomia nas empresas, para que comecem a trabalhar e mostrar o quanto a ergonomia é importante e na sequência fechar novos trabalhos maiores, como análise ergonômica do trabalho, por exemplo.
Caso queira aprender mais sobre o assunto, neste post você pode conferir um conteúdo bem detalhado sobre os tipos de treinamentos ergonômicos existentes.
Agora, vamos relembrar os treinamentos ergonômicos obrigatórios:
Manuseio Manual de cargas
Como consta na NR 17, todo profissional que realiza manuseio manual de cargas precisa receber a capacitação e assim não desenvolver desconfortos, lesões ou doenças.
Operadores de checkout
Aqui vale lembrar que todos os trabalhadores que operam checkout devem receber treinamento, sejam caixas de supermercado, lojas, etc. Essa obrigatoriedade consta no Anexo I da NR 17.
Teleatendimento
Todos os profissionais de teleatendimento/call center precisam receber treinamento obrigatório relacionando a saúde e segurança, que envolve a ergonomia. Essa obrigatoriedade consta no Anexo II da NR 17.
Saúde e segurança – NR 32
Como consta na NR 32, item 32.10.12, trabalhadores da área de saúde que realizam movimentação de pacientes e materiais, como técnicos de enfermagem, enfermeiros que realizam manuseio, equipe de manutenção e limpeza, devem receber treinamento obrigatório. Essa obrigatoriedade consta não só para hospitais, mas para qualquer local onde exista atendimento de saúde.
A NR 32 também especifica que o empregador deve comprovar a realização desse treinamento para a inspeção do trabalho, conforme descrito no item 32.2.4.4.9.2. É preciso comprovar com certificado, descrição do conteúdo, dia e hora da realização, carga horária do treinamento e a formação/capacitação do instrutor que realizou o mesmo.
Inclusive, essa é uma boa orientação de comprovação que pode ser replicada para todos os treinamentos que o profissional de ergonomia realize.
Empresas de Abate e Processamento de Carnes e Derivados (Frigoríficos NR-36)
A NR-36 contempla treinamentos obrigatórios relacionados a questões biomecânicas, de repetitividade, manuseio de carga, pausa, rodízio e alteração de postura, reunindo diversas oportunidades para o profissional de ergonomia.
ORIENTAÇÕES PARA REALIZAR UM TREINAMENTO ERGONÔMICO EFICAZ
1 – Conhecer a empresa, a função e as atividades
Esse cuidado já poupa o profissional de muitas situações embaraçosas e otimiza o tempo de trabalho.
Se você foi contratado para fazer um treinamento de ergonomia e é o primeiro contato com aquela empresa, é importante que você visite o local antes do treinamento, para entender as atividades executadas, o processo do dia a dia dos profissionais. Não tem como desenvolver um treinamento ergonômico eficaz se você não conhece as atividades desempenhadas pelos colaboradores.
Quando isso acontece, é comum falarmos algo que não condiz com a realidade dos trabalhadores, porque simplesmente desconhecemos as atividades. Assim, a chance de realizar um treinamento superficial será maior.
2 – Descobrir as principais dificuldades dos trabalhadores
É claro que se você foi contratado para um treinamento, não será possível realizar uma Análise Ergonômica, com entrevistas, etc, mas é importante descobrir as dificuldades dos trabalhadores que irão receber o treinamento ergonômico. Assim, será possível ajudá-los de forma mais eficaz.
Existem problemas que são simples de identificar e solucionar. Vamos pensar no seguinte caso: antes de realizar um treinamento, o profissional de ergonomia visita a empresa e pergunta ao gestor as principais queixas dos funcionários, que cita dor nos músculos do trapézio. Com uma rápida observação, é possível perceber que todas as cadeiras estão baixas, o que faz com que os trabalhadores precisem trabalhar com os ombros elevados para manusear o teclado. Um rápido ajuste, explicando aos trabalhadores como regular a cadeira, já pode resolver o problema. É algo simples, mas se você não tivesse visitado a empresa, nunca iria saber.
Temos também as gafes. Imagine, por exemplo, falar sobre a importância da alternância de posturas para trabalhar também sentado para trabalhadores que precisam andar por cerca de sete horas seguidas para a realização de suas atividades? É algo que não faz sentido para a realidade deles, assim o treinamento não será eficaz.
Lembre-se: se você não conhece os principais problemas, está deixando passar oportunidades valiosas de ajudar os trabalhadores.
3 – Conhecer os equipamentos ergonômicos que a empresa possui
É importante saber quais são os equipamentos, como apoio de pé, auxílios mecânicos de manuseio de carga, paleteira, ou seja, equipamentos de auxílio ou ergonômicos que essa empresa possui, antes de realizar o treinamento.
O profissional da ergonomia pode deixar de fazer uma excelente recomendação porque não sabe se a empresa tem determinado equipamento de auxílio, que muitas vezes os próprios funcionários nem sabem utilizar. Ou ao contrário. Imagine que você está em um treinamento de manuseio de cargas e menciona que é importante ter uma paleteira pantográfica, sendo que a empresa não possui. Isso cria uma saia justa entre o empregador e os trabalhadores. No treinamento, na frente dos trabalhadores, não é o momento ideal para falar sobre possíveis investimentos que a empresa precisaria fazer.
Obviamente não é para negligenciar. Se o profissional de ergonomia vê uma situação de melhoria, onde ele acredita que pode fazer uma recomendação, ele deve fazer. Porém, isso deve acontecer diretamente com os gestores, com o RH ou com a CIPA, por exemplo, e não abertamente para os trabalhadores durante o treinamento.
4 – Caso seja possível, veja a AET da empresa
Para otimizar o tempo, foque nos riscos que envolvem aqueles trabalhadores expostos ao treinamento. Focando o seu olhar nos riscos e recomendações que o profissional de ergonomia fez na AET, você poderá aperfeiçoar o seu treinamento para situações já encontradas.
5 – Prenda a atenção dos trabalhadores
É importante prender a atenção dos trabalhadores logo no início do treinamento, para que assim eles continuem acompanhando o conteúdo e não se percam com distrações ou que fiquem com a sensação de que estão perdendo tempo.
E como fazer isso? Uma tática infalível é contar uma história. Essa é a melhor forma de se conectar com as pessoas. Com uma história, o trabalhador se reconhece, reflete sobre sua própria situação. Contando histórias você cria conexões.
6 – Não use termos técnicos
Não use jargões profissionais da ergonomia, pois os trabalhadores não irão entender, o que pode dispersar a atenção. Termos técnicos não funcionam. Fale de uma forma que seja fácil de entender, que seja clara, objetiva e não deixe dúvidas. Com o trabalhador, você não precisa falar ergonomês.
7 – Incorpore os problemas no treinamento
Monte o seu treinamento de acordo com os problemas enfrentados pelos trabalhadores, para dar dicas mais direcionadas e assertivas. O conteúdo abordado deve ser baseado nas necessidades dos trabalhadores e não exclusivamente nas preferências do profissional da ergonomia.
8 – Explique os porquês
Não adianta só falar o que precisa ser feito. O trabalhador tem que entender por que ele precisa realizar determinado movimento, por que ele precisa utilizar aquele equipamento de auxílio e assim por diante. É preciso que ele compreenda os benefícios para a sua saúde e segurança ao fazer o que é dito no treinamento. Quando há esse entendimento, é muito mais fácil seguir as recomendações e os funcionários aplicarem no dia a dia.
Treinamentos ergonômicos são muito importantes para o dia a dia de uma empresa e uma fonte inesgotável de oportunidades na ergonomia. Você tem experiência com treinamentos? Me conte nos comentários.
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